“Para garantir que a asma está controlada, é aconselhável manter contacto com o médico que acompanha o doente”

O Dia Mundial da Asma assinalou-se a 5 de maio.

Maio 07, 2020

A propósito do Dia Mundial da Asma, assinalado a 5 de maio, quisemos saber a opinião do Imunoalergologista, Prof. Doutor Pedro Martins, sobre a doença respiratória, os principais mitos que lhe estão associados e os riscos que pode representar atendendo ao contexto de COVID-19 mas, também, sobre o futuro do tratamento.

Dia 5 de maio assinalou-se o Dia Mundial da Asma. Quais são as principais mensagens a transmitir aos asmáticos nesta data, tendo em conta o contexto em que vivemos?

(…) é aconselhável manter contacto com o médico que acompanha o doente, através de consultas de telemedicina.

Prof. Doutor Pedro Martins

PM: Em primeiro lugar, uma mensagem de tranquilidade, já que de acordo com a informação existente, ser asmático não é sinónimo de maior risco de doença por COVID-19.

Em segundo lugar, uma mensagem de alerta, para a necessidade de ter a asma controlada no sentido de mitigar qualquer impacto potencial (ainda que baixo) da infeção por COVID-19 e de reduzir qualquer exacerbação que possa motivar deslocações ao serviço de urgência, onde o risco de contactar alguém infetado é superior. Para garantir que a asma está controlada, é aconselhável manter contacto com o médico que acompanha o doente, através de consultas de telemedicina.

Em terceiro lugar, uma mensagem de resiliência. Temos de aprender a conviver com este vírus, procurando seguir as recomendações de proteção, distanciamento social e de higiene preconizadas pela Direção-Geral da Saúde.

O que representa a pandemia COVID-19 para os asmáticos? São um grupo de risco? Que cuidados extra devem ter, para além dos cuidados da população em geral? 

PM: Apesar de a infeção por COVID-19 poder ser assintomática ou provocar sintomas ligeiros na maioria das pessoas infetadas, sabemos que em alguns casos pode associar-se a quadros clínicos de maior gravidade. Com base no conhecimento prévio do comportamento de outros coronavírus já conhecidos, na experiência acumulada pela China e posteriormente pelo resto do mundo, foram identificados alguns grupos de risco para complicações mais graves. Nestes, foram incluídas as pessoas com doença crónica respiratória, designadamente asma e DPOC.

Contudo, de acordo com a informação atualmente disponível, não existe qualquer evidência de que quem tem asma apresente um risco aumentado para contrair infeção por COVID-19 ou desenvolver maior número de complicações. No entanto, em termos teóricos é expectável que o COVID-19, à semelhança de outros vírus respiratórios, possa também induzir um agravamento da asma. E sabemos hoje que o agravamento da asma tende a ocorrer com maior grau de probabilidade nas pessoas não estão devidamente controladas e tratadas.

Por estas razões, o conselho principal que deixo a quem tem asma é que mantenha a sua doença devidamente controlada, cumprindo o tratamento médico adequado, de forma a prevenir situações que apesar de pouco frequentes poderão ter consequências graves.

Que lições nos trouxe a pandemia relativamente à importância de fazer uma terapêutica adequada no caso do doente asmático?

(…) a principal lição é que manter a asma controlada, cumprindo um plano de tratamento adequado, confere uma segurança acrescida ao doente asmático.

PM: Sabemos que os vírus respiratórios são a principal causa de exacerbação da asma. Contudo, até à data, não existe evidência de que a infeção por COVID-19 possa ser causa de agravamento. Da mesma forma também não existe qualquer indício de que a medicação utilizada no tratamento da asma aumente o risco de infeção por COVID-19. Neste sentido a principal lição é que manter a asma controlada, cumprindo um plano de tratamento adequado, confere uma segurança acrescida ao doente asmático.

Na sua opinião, ainda existem mitos relativamente à asma? Que mitos são esses?

PM: Existem vários mitos relacionados com a asma, e irei destacar alguns. O primeiro é considerar “normal” ter sintomas de asma, e não valorizar devidamente a pieira ou a falta de ar, que surgem por exemplo quando a pessoa se ri ou pratica atividade física. Tais sintomas indiciam que a asma não está controlada e a necessidade de ajustar o tratamento. E aqui entramos nos mitos associados à medicação para a asma, que incluem a preocupação de que esta possa provocar “habituação”, aumento de peso e “fazer mal ao coração”. Tais receios são infundados atendendo ao perfil de segurança dos medicamentos atualmente utilizados.

O que é para si uma pessoa com doença de asma controlada? 

PM: O conceito de asma controlada envolve, atualmente, dois domínios. Um primeiro domínio, de carácter clínico, que é estabelecido pelos sintomas, limitações e necessidade de medicação de alívio reportados pelo doente. Para avaliar este domínio poderemos recorrer a alguns testes, como o CARAT e o ACT; o segundo domínio corresponde à avaliação do “risco futuro” de deterioração do controlo da asma, exacerbações, declínio da função pulmonar e efeitos adversos da medicação.

Pensando no futuro, como vê o tratamento da asma daqui a uns anos? 

(…) antevejo o aparecimento de tratamentos que incluam moléculas ainda mais eficazes.

PM: O tratamento para a asma tem evoluído muito ao longo das últimas duas décadas, e tem caminhado no sentido de maior eficácia, comodidade e menos efeitos adversos. Neste sentido, antevejo o aparecimento de tratamentos que incluam moléculas ainda mais eficazes, mais seletivas e com um efeito mais prolongado, que possam ter uma posologia cómoda para o doente e um ainda maior perfil de segurança.